Esse é o caso, por exemplo, de uma das artistas que mais gerou discussão aqui no FalaCultura: a fotógrafa Mariel Clayton e suas bonecas Barbie, imersas em um mundo bem menos “perfeito” – em cenas de sexo, tortura e violência.
Já Dina Goldstein, outra fotógrafa norte-americana, mirou em outro elemento do mundo infantil: as princesas retratadas em filmes da Disney. Questionando os valores passados às meninas quando ainda crianças (note que todas as princesas resolvem os conflitos em sua vida por sua beleza, e não por sua capacidade ou inteligência) e, novamente, a questão do “mundo perfeito” associado a essas figuras, Dina criou a série Fallen Princesses, um trabalho cheio de ironia.
A ideia é colocar as imagens das princesas, associadas sempre ao “final feliz”, em um cenário de problema real, enfrentado diariamente por mulheres pelo mundo. Dina explica: “Quando criança, cresci fora do meu país e tive pouco contato com contos de fadas. Quando os conheci, já adulta, fiquei curiosa e fui buscar suas origens. Percebi, pelos originais dos irmãos Grimm, que as histórias continham passagens macabras e trágicas – tudo tirado pela Disney. Comecei a imaginar a justaposição das princesas perfeitas da Disney e problemas reais que afetam mulheres ao meu redor.”
Talvez uma das imagens mais representativas do “o que vem depois do ‘felizes para sempre’ ” seja a de Branca de Neve, que aparece em um pesadelo doméstico. O então “encantado” príncipe agora espreguiça-se para assistir TV e beber cerveja, enquanto ela encarrega-se das (muitas) crianças.
O questão da solidão é tratada nas fotos de Cinderela, que bebe sozinha em um bar de Vancouver, e Pocahontas, que representa a famigerada imagem da crazy cat lady, a mulher solteirona e solitária que preenche seu vazio interior com gatos.
Como deu para perceber pelas imagens acima, os problemas apresentados são de toda espécie – da doença e velhice à ditadura estética que leva milhares de mulheres a recorrer às cirurgias plásticas. Existem inclusive questões sócio-ambientais mais complexas, que são apresentadas nas fotos da Ariel e da Princesa e a Ervilha. Essas duas últimas são mais complexas, com várias camadas de interpretação.
Apesar das obras serem contestadoras e contrárias a preconceitos, muitas acabaram gerando controvérsias, justamente por incitarem algumas formas de preconceito.
Uma delas foi a obra que retratava a princesa Jasmin, do filme Aladin. Jasmine foi representada em meio a bombardeios em algum país árabe, armada de uma M-16 e com olhar feroz. Muitos questionaram o fato de o destino “infeliz” de Jasmin estar diretamente associado à preconcepções raciais – a pressuposição de que Agrabah, se existisse hoje, estaria em guerra.
Outra imagem a gerar bastante controvérsia foi a Chapeuzinho Vermelho obesa, que carrega uma cesta cheia de fast food à casa da vovozinha. As garotas do Woman’s Glib ficaram indignadas com o duplo preconceito contido na imagem: de que pessoas acima do peso apenas comum comidas cheias de gordura e refrigerantes, em proporções absurdas; e que estar acima do peso em si é uma forma de “fracasso”.
0 comentários:
Postar um comentário